sábado, 12 de janeiro de 2013

Historinha....


Bom, essa é a minha história. Eu, Andreza, 20 anos e estudante de Letras vos escrevo. É uma história até que curta dura só 20 anos. Prometo ser breve.

Ok, vamos lá. Sou a filha mais velha do segundo casamento da minha querida mãe, além de mim tem minha irmã que é pouco mais de um ano mais nova do que eu. Papai é militar da aeronáutica, mamãe, durante a minha infância e grande parte da adolescência, dona de casa. Uma linda família de moldes tradicionais e mimimi. Só vai ter um porém. Sempre fui tida como A inteligente da casa, aquela que tinha futuro e blábláblá, mas chega um dia que a criancinha perfeita “quebra”.

Mais ou menos com sete anos fui diagnosticada com epilepsia e passei a tomar um remédio, que jamais lembrarei o nome, e que me deixava dopadona. Era tomar o remédio e dormir. Mas o remédio NÃO surtiu efeito e eu continuava a ter repetidas crises epiléticas, resultado: meu pai foi atrás de convênio e fizeram uma bateria de exames e trocaram o remédio para: GARDENAL. O Gardenal surtiu o efeito previsto e não tive nenhum efeito colateral, quer dizer, só as piadinhas e o bullying tradicional que fazem. Bullying também rolou quando comecei a usar óculos, quando usei aparelho, porque sou baixinha, etc. Bullying e eu somos amigos íntimos.

Vamos pular alguns bons anos, vamos aos quinze/dezesseis anos. Lembra-se da epilepsia? Então, no começo do tratamento uma médica disse pra mim e pro meu pai que meu tratamento ACABARIA quando eu completasse dezoito anos, mas vamos ao desenrolar da história. Acabei trocando de médica e consequentemente de remédio. Comecei a tomar um chamado Depakene e ele teve um efeito colateral pra lá de grotesco no meu corpo. Engordei 15kg em menos de quatro meses. E sabe o que aconteceu comigo? BULLYING! Mas não só bullying “charmoso” e “camarada” dos coleguinhas de escola, mas também da minha querida mamãe. Minha mãe sempre separou muito bem os apelidos dados a minha irmã e a mim. Pra minha irmã era “baleia” e pra mim “vara-pau”, mas mudou. Ela começou a me chamar carinhosamente de baleia pra baixo. E eu que nunca fui um poço de estabilidade psicológica (tema para outro texto), surtei J.

Não foi um surtinho. Meu surto foi do tipo: fazer escândalo pra trocar o medicamento ou eu paro de me tratar! Beleza, o escândalo funcionou. Hoje penso que poderia não ter funcionado e que eu seria feliz e com uma saúde ótima. Enfim, troquei mais uma vez de remédio, desta vez para o Topiramato ou Topamax como é mais conhecido. Também teve um efeito colateral bizarro no meu corpo (e um rombo no orçamento familiar gigantesco), só que dessa vez o efeito foi inverso. Os 15Kg que eu tinha ganho foram embora e levaram junto mais cinco e minha saúde física e mental.

De quase 65kg eu fui pra 45kg em menos de DOIS meses. Estava magra de novo, aliás, estava beeeem magrela. Mas meu cérebro não associou essa informação. Eu me olhava no espelho e continuava a me achar enorme, gorda e gigante. E sendo bem sincera, o seu cérebro pode te enganar e, caso queira, planejar sua destruição quando ele quiser. Vai por mim, eu sei do que estou falando.

Sabe anorexia, bulimia? Então, foram parceiras minhas. Mais a anorexia, vulgo Ana, que a bulimia, vulgo Mia. Olhar-se no espelho e se sentir feia é comum, normal, mas se sentir diminuída, com vergonha de si mesma, querendo sumir por causa do seu corpo e se machucar por isso é outra coisa, é outro nível. Não é brincadeirinha de adolescente que quer chamar a atenção, como muitas vezes escutei, é coisa séria. É algo que afeta a vida da pessoa pra sempre.

A Ana me deixou sérias consequências. Muitas deles carrego comigo até hoje. E não, eu não acho bonito eu gritar ao mundo que eu não comia por dias. Acho muito vergonhoso. Quando comecei a me sentir mal com meu corpo e surtei não só parei de comer como encontrei meios para não sentir fome. Estudei muito por cima como funcionava o corpo humano e saquei como driblar a vontade de mandar calorias pra dentro do corpo. Fiquei viciada em ler tabela nutricional, aliás, até hoje leio tudo o que como e pesquiso tudo o que penso em comer. Imprimi inúmeras tabelas com os números de calorias e sabia de cor quanto uma bala de coco afetaria meu organismo. Jogava fora metade da comida que colocava no prato, que já não era muita, quando não vomitava tudo. E chorava, chorava muito.

A neura de emagrecer é bizarra. Eu já tinha perdido tudo o que precisava, mas queria mais. E de 45kg fui perdendo um quilo por vez. Até que cheguei aos 42kg e percebi que não conseguia mais emagrecer e comecei a ficar deprimida e procurar mais meios de como emagrecer. Loucos não assumem que são loucos, magros sempre se chamarão de gordos. Eu já estava pior que o Daniel Johns, mas nunca aceitaria aquilo. Aquela essa altura meu estomago já tinha ido pro espaço.

Durante todo o tempo que fiz essas grandes bizarrices eu sempre achei que todos estavam contra mim. Que ninguém queria me ver feliz. Que não entendiam o meu propósito, que não entendia a beleza que eu via e que eu queria. Na verdade eu só estava me destruindo e tentando me matar e graças a alguns bons amigos eu sempre fui impedida disso. Graças a alguns que me deram tapas na cara, me apontaram o dedo e gritaram comigo me chamando de louca e ameaçando me internar. Graças aqueles que me socorreram quando eu desmaiei no meio da rua e dentro da sala de aula. Graças aqueles que fizeram cara feia e me obrigaram a comer. Graças aquele que chorou no meu colo porque eu estava muito magra. Graças ao cara que disse: se você não comer, eu também não como. Graças a inúmeras atitudes.

Hoje metade das coisas que aconteceram realmente me afetam, sempre reinterarei isso. Baixa autoestima pode ser colocada em primeiro lugar, mas esse é o pior dos problemas. Enquanto todos se entopem de comida quando estão nervosos ou coisa parecida, eu não sinto fome nenhuma. Posso passar horas sem comer e não sentir fome, muitas vezes eu só como por vontade de comida mesmo. Qualquer coisa que me abale é uma certeza que dois ou três quilos serão perdidos e será um trabalho de, pelo menos, quatro meses para recupera-los.

Mas sabem, mesmo com a tremedeira das minhas desordens neurológicas, meus quatro olhos e a boca de ferro, da qual me livrei, foi tudo sempre de boa. Eu sempre levei na esportiva e tirei de letra todas as dificuldades que tive com todos os itens supracitados, mas não com meu corpo. Ok que até hoje sou mega encanada com minha aparência e com todo e qualquer detalhe do meu corpo, mas consigo ser mais leve e fazer até piadinhas com isso.

Essa é a hora que eu deveria concluir, mas bem... eu não consigo. Ainda faço tratamento de epilepsia e vivo me vigiando, e sendo vigiada, pra comer pelo menos uma vez ao dia. Não dá pra colocar um ponto final e dizer: VIU GENTE, ME CUREI DE TUDO! SOU LINDA, UMA PRINCESA! Não existe cura, nem pra epilepsia, nem pra anorexia/bulimia. Amanhã eu posso estar jogada na rua tremendo, ou ficar não sei quantos dias sem comer. Não sei o que a vida determinou parar mim. A única coisa que eu sei é que eu tenho que esperar, esperar e me manter o pensamento firme. Porque se eu não morri antes dos dezoito anos não é depois deles que irei perecer.