O espaço entre o trem e a plataforma é inexistente quando se
trata de Estação Sé às seis da tarde. Aliás, nesse horário não há espaço
naquele lugar! Todo metro quadrado é tomado por um batalhão de pessoas com os
mais variados destinos. E a única certeza que se pode ter é que esse é o ponto
de encontro que a cidade de São Paulo escolheu, quer dizer, decretou como único
e supremo. E nessa supremacia toda, todos se suprimem, ficam espremidos, sufocados,
doloridos e com uma vontade enorme de matar o filho da puta vossas costas para
dentro do vagão.
Caso o inferno exista, um de seus portais é aberto
pontualmente às cinco e meia da tarde, porque tem que encher a plataforma e
causar o caos, de segunda a sexta feira nessa bagaça de metrô. E o pior é que o
sofrimento não vai acabar quando você entrar no vagão, ó tão sonhado vagão, ele
vai piorar!
Imagina que a chegada do metrô na plataforma é como jogar na
Mega Sena, ou melhor, jogar Truco. Você precisa ter sorte, pra chegar um vazio,
muita manha, pra conseguir um lugar sentado, e ser bom de blefe, pra poder
mentir pra si mesmo que aquele desgraçado atrás de você não te empurrou e/ou
não está te encoxando.
Ok, muitas vezes não é possível ser um exímio jogador na
arte do metrô, principalmente na Sé. Pois quanto mais o metrô se aproxima da
plataforma mais o clima de tensão aumenta e é só abrir as portas que é cada um
por si! É declarada guerra, vale tudo, Pride, MMA, treta, salve geral, chame do
que quiser, mas só lembre-se de levar a mochila/bolsa na frente do corpo,
cuidado com o celular, olha a mão boba, libera o banco preferencial, malandrão,
e comece a entoar um mantra pra relaxar, logo você chegará ao seu destino
final. Mas se empurrar leva xingo e se meter a mãe no meio leva um tapa na
fonte pra dar sinal de ocupado até a próxima vida.